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“Preciso de remédio para dor de barriga”

 

Uma das comerciantes, Luana, que não terá seu nome real identificado, enviou um vídeo de como a embalagem desse produto é feita no dia 24 de março, com a intenção de assegurar a qualidade de sua entrega (apresentado ao longo do texto).

 

 

 

 

  Quando um filho diz a mãe que está com dor na barriga, geralmente, Bucopan e Aspirina são indicados. Mas nesse caso não serve para o incomodo sentido por dois motivos. Um deles é a gravidez, que apresenta risco se consumido esses tipos de medicamentos, o outro é o aborto, que não é feito através desses compostos. A “dor de barriga” simboliza o pedido de socorro de milhares de jovens via internet.

   No período de março a abril buscamos, como clientes, por grupos nas redes sociais que sejam aliados a venda de Cytotec, remédio utilizado para aborto. No Facebook encontramos sete relacionados ao comércio de remédios abortivos, dois desses nos levavam ao Whatsapp. Esse produto é feito para prevenir úlceras no estômago e possui em sua composição o Misoprostol, composto que pertence aos antiácidos e antiucerosos. Ele é contraindicado para mulheres grávidas ou que pretendem engravidar.

    Os grupos do Whatsapp além de servir como ponte de compra/venda, são um meio de divulgar o próprio trabalho e atrair a confiança das possíveis clientes. São relatos diários de experiências. Lá mulheres narram ao vivo os passos e imploram por apoio das colegas. Fotos de embriões, áudios de alívio, dúvidas e manuais de como realizar o procedimento são trocados semanalmente. É um espaço que essas pessoas utilizam para não carregar a dor do julgamento da sociedade.

   O Cytotec, ligado ao aborto, serve para induzir o parto ou expulsar fetos. Desde 1998, sua comercialização no Brasil foi proibida, só é permitida em uso hospitalar. Hoje, apenas uma empresa brasileira tem autorização do governo federal para comercializar o misoprostol. O valor da venda nas duas redes sociais, pelas duas fornecedoras, é de R$100 reais cada comprido. Elas indicam que um seja tomado para cada semana de gravidez, ou seja, se estou com seis semanas de gestação pago por seis compridos um valor de R$600 reais mais o frete que, geralmente, é de R$50 reais. Esses produtos são enviados pelo correio no mesmo dia que o depósito é feito e o comprovante fotografado.

 

 

   São mais de 71 participantes no grupo de Luana. Nas conversas feitas pelo Whatsapp, essas mulheres contam à dor que o aborto traz. Lá algumas passaram por cinco horas de procedimento, outras oito, e há duas que sofreram por 15 e 19 horas respectivamente. Não é difícil encontrar no meio da conversa pedidos de ajuda e também para que possam comer ou tomar água (isso é proibido, pois ajuda o corpo a relaxar) no meio do aborto. “Olá meninas, chegou o dia que decidi sair do grupo. Fiz meu procedimento em dezembro de 2017, com 13 semanas e deu tudo certo. Agradeço imensamente a Luana pela ajuda antes, durante e depois, pelo apoio e dedicação. Continuem essa batalha meninas. Estou disponível a ajuda para quem vai realizar ou está na mesma quantia de semanas que eu. Encontraram um grupo de amor”, afirma uma das participantes.

   Algumas dessas contam que vão ao hospital, pois sentem-se mal quando expelem o feto. A venda do Cytotec é considerada crime e foi decretado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) como um risco a saúde, visto que não oferece tantos benefícios. A substância faz parte da lista sujeita a controle especial, de acordo com a Portaria 344/1998.

   Essa proibição ainda não atingiu a internet, que oferece um atendimento completo aos interessados. A entrega é garantida por todo o Brasil, inclusive nas menores cidades do Paraná. Além disso, informações sobre o produto e o procedimento são encontradas com facilidade através do Google. Em alguns sites há uma calculadora gestacional que auxilia a gestante, assim como o Aborto na Nuvem que oferece uma espécie de consulta médica online.

   

 

 

 

  “Na minha cabeça não passava que tanta mulher abortava por dia”, exclama uma jovem de São Paulo no whatsapp. “Eu estou tranquila, mas com medo de morrer”, conta uma curitibana que está prestes a iniciar seu aborto. “É, fica calma, a gente vê cada coisa na net que só alimenta o medo”, assegura uma fortalezense. Essas jovens encontram no grupo conforto e acolhimento. Diana é uma delas. Ela contou sua experiência às colegas como forma de estimular as que ainda não tomaram coragem.

   “Eu comecei meu procedimento por volta das 20:20, estava de oito semanas, segui a orientação da Luana. Era jejum absoluto, sem água, sem comida, sem doce, nada poderia. Dois comprimidos foram sublingual e dois introduzidos na genitália. Coloquei um travesseiro para levantar o bumbum e também um OB (absorvente interno) para empurrar. Depois de mais ou menos 1:30h eu estava bem. Eu sentia contrações e cólicas, mas aquilo era o certo. Fiz a segunda dose de sublingual, os sintomas começaram a aparecer. Eu liguei o ar condicionado em 30º graus e estava com um cobertor, mas não parava de tremer. Cronometrei e depois de três horas de procedimento fui para o banheiro. Meu corpo avisou que iria começar. Iniciou a famosa ‘dor de barriga’, fui para o chuveiro e deixei a água cair nas costas. A dor aumentou, eram cólicas fortes. Sentei na privada e comecei a massagear minha barriga. A bolsa estourou, era uma água quente com pouco sangue. Essa hora me lembrou uma cena de filme de terror, esguichou sangue para todo lado. As coisas aconteceram. Eu acreditei todo o tempo que daria certo e deu. Meu procedimento acabou por volta de 01:23h”, explica.

   

      Os contrabandistas 

     Cerca de 33 mulheres foram presas no Brasil em 2014, após a prática de aborto provocado. Dessas, 15 estão no Rio de Janeiro, 12 em São Paulo e uma em Minas Gerais. As outras estão no Paraná e Distrito Federal. O artigo 124 do Código Penal, de 1940, criminaliza o aborto e prevê uma pena que pode variar de um a três anos. Em 2017, a Policia Rodoviária Federal prendeu um homem de 45 anos que contrabandeava 15 mil comprimidos do Paraguai. De acordo com o site Hoje em Dia, o valor estimado é de R$ 1,4 milhões. O sujeito estava em Foz do Iguaçu transportando esses medicamentos. 

   Os contrabandistas não encontram dificuldades para fazer a fronteira com o Cytotec. A venda é proibida no Brasil e no Paraguai, mas não impede o comércio nos países. Ele é considerado um dos principais motivos de apreensão, de acordo com a Receita Federal. O traficante que transporta o remédio é responsabilizado pelo crime de infração sanitária e importação de produtos de forma ilegal e pode pegar pena de dez a 15 anos. A BR-277, localizada na saída de Foz do Iguaçu, sempre recebe visita da Polícia para intercepção.

   No dia 21 de março de 2018, um indivíduo foi preso em Foz do Iguaçu por tráfico de medicamento abortivo. Ele realizava as vendas com o auxílio da internet e depois enviava pelo correio. O sujeito reside em Foz, mas possuí casa em Guarapuava, Paraná. Ele se identifica como Thor, nome dado a operação policial, possui 38 anos e foi preso no Jardim São Roque. Aproximadamente R$50 mil são avaliados por mais de 580 comprimidos apreendidos em Guarapuava.

    A investigação iniciou em fevereiro de 2018 pela Polícia Civil de Foz do Iguaçu quando uma mulher adquiriu Cytotec com Thor que revendia seus produtos por R$100 cada comprimido. Após utilizar o medicamento ela foi até Foz do Iguaçu onde encontrou com o homem. Ele a levou até um motel, entregou outros medicamentos e abusou da vítima. A prisão de Thor foi decretada pela 2ª Vara Criminal. Em Guarapuava, no Bairro Batel, mora sua esposa. Lá foram encontrados medicamentos, máquina de cartão e comprovantes de envio pelo correio para todo o país.

   Para trabalhos como esse existe uma cooperação entre as polícias brasileiras e paraguaias. “Existe um trabalho conjunto, mas não são realizadas operações em conjunto por questões burocráticas mesmo. Mas, geograficamente estamos muito perto e por isso, muitas vezes acaba havendo certa proximidade”, explica a Polícia Civil de Foz do Iguaçu, responsável pela apreensão desse sujeito.

    Em relação a isso, Thor fazia a travessia de carro, não é algo configurado. Se esse trabalho fosse feito de outra forma o processo, assim como a abordagem, deveriam ser feitos pela Justiça Federal. “As investigações ainda estão em andamento, mas inicialmente o indivíduo responderá por tráfico de medicamentos, estupro de vulnerável e aborto provocado por terceiros”, continua a P. Civil.

    O mercado negro de Thor e de Luana tem se difundido a cada dia com mais facilidade. Ao contrário do homem, ela é uma revendedora que não busca o produto em outros países, mas programa o contato com as possíveis clientes. Ela promete acompanhamento e conversa com as gestantes durante todo o procedimento. No grupo, manda prints da conversa provando o tratamento prometido.

-“Está começando a sair uns pedaços de alguma coisa com sangue”, conta uma jovem.

- “Sério? E a cólica aumentou? Já diluiu o último?”, pergunta a comerciante.

- “É coágulo?”, continua indagando.

- “Doeu muito, mas acho que saiu”, afirma a vítima.

- “Eita, mas tem que sangrar mais”, explica Luana.

   Quando as mulheres entram no grupo uma mensagem é enviada instantaneamente com todas as regras: “Olá meninas, sejam bem vindas! O grupo é voltado para troca de experiências e ajuda dos membros. Não será permitido: venda de medicamentos sem autorização. Venda de medicamentos sem procedência de que é original. Ofender algum membro do grupo. Expor fotos de feto ou embrião. Evite falar o nome do medicamento por questões de segurança. As dúvidas podem ser esclarecidas com meninas que já fizeram​ o procedimento ou com a própria administradora. Existem várias questões como: é perigoso fazer o procedimento sozinha? Não, com tranquilidade, paciência e procedimento detalhado, nada sairá do controle. É possível descobrirem o remédio através do exame de sangue? Não, até porque o medicamento tem a absorção hiper rápida e em casos muitos raros é necessário ir até um hospital no mesmo dia. Quanto tempo depois do aborto posso voltar a ter relações? É indicado que respeite completamente o resguardo (de 30 a 40 dias), o útero fica machucado e você já corre o risco de estar ovulando (usem proteção). Posso tomar algum medicamento para dor? (Ibuprofeno​, Tylenol, Advil, Buscopan). Em hipótese alguma deve ser feito o consumo de qualquer​ outro medicamento, as contrações são necessárias para expelir o feto. O que devo dizer no hospital? Chegando ao hospital, você deve dizer que fez um teste de gravidez, e que depois de algumas semanas, teve um sangramento junto de dor, diga sempre que está preocupada com a saúde do bebê, assim sua atenção será maior. Quanto tempo de repouso? O repouso deve ser feito apenas se optar pela introdução do medicamento, no guia do procedimento tem tudo detalhadamente, de acordo com a quantidade​ usada. Em caso de febre? Como dito acima, nenhum medicamento deve ser usado durante o processo. A febre se estabiliza conforme o passar das horas. Posso comer depois de quanto tempo? Assim que o procedimento se der por encerrado (quando sair tudo que tiver que sair). Em casos de fraqueza, é recomendado que coma bolachas de água e sal, molhe a boca com isotônico. Quais são os sintomas do medicamento? Febre, náuseas, diarreia, calafrio, tremedeira, dor na língua, cólica e sangramento”.

   Esse procedimento precisa ser feito após um jejum de uma a três horas. As necessidades fisiológicas devem ser feitas antes para evitar locomoções desnecessárias. O ambiente deve ser preparado para proporcionar comodidade. Quando a vítima sente fome deve comer coisas leves como bolacha de água e sal, torradas, frutas que não sejam ácidas ou proteínas. Leite, derivados e doces não pode ser consumidos em hipótese alguma, assim como gordura. Além disso, as mulheres costumam fazer massagem pélvica e compressa para diminuir a dor. Uma parte desse processo se assemelha a um parto normal, algumas gestantes se dirigem ao chuveiro e deixam que a água quente caia nas costas e vão fazendo forças conforme o grau de dor que estão sentindo.

    Depois do aborto é comum que surja um sentimento de pesar e dor. “Toda perda gera um estado de duelo e é muito difícil superar a dor de um aborto. A pessoa sabe que é culpada pela perda e não possui possibilidade de visitar o corpo morto. É um trabalho de autoconvencimento de que não se trata de um ser humano”, compartilha a dona do grupo como forma de acalmar as participantes. As mulheres relatam que sangram de nove a 14 dias. Algumas chegam até liberar coágulos por mais tempo. Nos primeiros dias o sangramento é mais intenso, mas há aquelas que quase não apresentam esses sintomas.

    Segundo uma pesquisa de 2014, feita pela Universidade da Califórnia em San Francisco (UCSF), 55 mil mulheres foram monitoradas após seus abortos e menos de 1% encontraram complicações graves. Mais de 99,75% não causam problemas médicos. O mesmo estudo mostra que as personagens televisivas que fazem abortos, geralmente, morrem ou sofrem consequências importantes com o procedimento. O que não é o caso das participantes do grupo de Luana.

    Assim como ela, Marcia também encontra no Whatsapp um aliado. Ela procura possíveis clientes no Facebook, entra em contato pelo bate-papo. “Como posso ajuda?”, indaga. Após a resposta inclui as interessadas no “Aborto SOS” nome escolhido. Lá, uma jovem relata sua experiência.

E envia um manual do procedimento.

 

Print de conversa com traficante que indica a quantia de Cytotec que julga necessária para o aborto.

    Ao contrário da facilidade encontrada em grupos de Whatsapp, conversas no chat do Facebook demandam paciência e esforço. Entramos em contato com um jovem de Guarapuava que será chamado de Léo, pois prefere não ser identificado. O homem é estudante da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), o que evidência a clandestinidade mesmo dentro de instituições públicas. Ele possui traços orientais, temperamento forte e respostas curtas, assim demonstra não confiar no cliente e sentir medo das consequências que esse trabalho pode lhe trazer, o que vai além da simpátia não apresentada. Quando a famosa pergunta é feita, a resposta é grosseira, com um ar de deboche “remédio para dor de barriga? Toma um chá de malva que passa”, responde Léo.

    Como falsa gestante, grávida de oito semanas, precisamos insistir na necessidade do remédio. O homem continua com perguntas para tentar descobrir quem o indicou. Chegamos até ele através de uma menina que também tentou uma compra, mas como já estava de 12 semanas, seria um risco tomar o medicamento. Ela pediu sigilo e por isso completamos explicando ao vendedor que não seria possível identificar a pessoa. Ele negou a venda, disse que trabalha com nomes e encerrou a conversa. Duas semanas depois, voltou a entrar em contanto. “Olá, você ainda precisa do remédio? Se quiser posso te passar um amigo meu. Mas já aviso que ele demora umas duas semanas para ir ao Paraguai. Você que sabe, pode fazer o pedido”, explica o homem.  

     Os sites

    Outro meio que se tornou famoso para adquirir Cytotec são os sites de apoio às mulheres. Entre eles estão o Aborto na Nuvem e Women Help Women. Com design parecido e clean, medicamentos são apresentados com o intuito de afirmar o direito da mulher e o controle sobre sua própria vida. Pela internet, consultas online são feitas para expandir o acesso á produtos ligados à saúde reprodutiva. O serviço é sem fins lucrativos e afirma trabalhar com produtos de qualidade que são seguros e efetivos. Lá são encontradas pílulas para aborto medicinal e outros contraceptivos. Vários desses podem ser pedidos ao mesmo tempo. A equipe se disponibiliza a apoiar as pacientes durante o processo. Os atendentes e social mídia se colocam como “um grupo profissional de ativistas e conselheiros com formação e conhecimento aprofundado em saúde reprodutiva”.

    Para aumentar a credibilidade desse serviço, todos os profissionais ligados ao programa possuem o nome disponibilizado, junto à formação e outras informações que esclareçam dúvidas das pacientes. Entre eles: Angel M. Foster DPhil, MD. Responsável pela Catedra de Pesquisa em Saúde da Mulher na Univesidade de Ottawa. Caitlin Gerdts, PhD, MHS, epidemiologista. Lyubov Erofeeva, MD, que possui mais de 20 anos de experiência em saúde da mulher. Mara Carvalho, MD, médica de família e ativista pelos direitos sexuais e reprodutivos. Para esclarecer outras questões a seguinte mensagem está evidente no portal: “E-serviços – Através de uma consulta on-line mulheres podem solicitar o acesso a contraceptivos, contracepção de emergência e aborto medicinal. Uma equipe multilíngue de pessoas capazes de aconselhar e acompanhar está disponível online pelo email info@womenhelp.org para apoiar cada mulher que entra em contato conosco”.

     O site para uso pessoal e não revenda de produto. A equipe trabalha com informações baseadas nas pesquisas das integrantes. As médicas não se responsabilizam por danos ou complicações acarretadas pelo uso do remédio e pedem que a qualquer emergência um especialista seja contatado. “Women Help Women também não é responsável por qualquer dano, lesão ou morte relacionado com o uso do Website ou com o Conteúdo publicado no site ou transmitido por e-mail”, surge como aviso aos internautas. 

     Ao acessar essa plataforma a mulher é condicionada a responder um questionário de consulta com honestidade, onde deve revelar todas as informações possíveis sobre sua gravidez. Caso não consiga, deve parar a consulta online para não acarretar em problemas futuros. O Women Help Women e o Aborto na Nuvem asseguram confiabilidade e privacidade dos dados pessoais.

     Algumas questões de saúde pública são levantadas dentro do próprio Women Help Women. Cerca de 215 milhões de mulheres em todo o mundo não conseguem ter acesso a produtos contraceptivos. São aproximadamente 20 milhões de abortos clandestino feitos anualmente, em condições precárias e ilegais. Cerca de 22,500- 44,000 mulheres morrem anualmente devido a complicações em procedimentos. A cada 10 minutos uma vítima morre. Esses números são, principalmente, relacionados a países em desenvolvimento.

     A falta do acesso ao aborto seguro é uma violação dos direitos humanos previstos por lei. Entre eles o de viver, o direito a não discriminação, acesso à saúde, a informação, à privacidade e confidencialidade, viver livre de crueldade, entre outros que são previstos e recomendados pelas Nações Unidas e OMS. As leis mais severas contra o aborto estão na América Latina, Ásia e África.     

 

“Um milhão de mulheres abortam todos os anos na França. Elas abortam em condição arriscada por causa da clandestinidade a que são condenadas, ainda que essa operação, se praticada sob supervisão médica, seja muito simples. Silenciamos sobre esses milhões de mulheres. Declaro ser uma delas. Declaro ter abortado. Da mesma maneira que demandamos acesso livre aos métodos contraceptivos, nós pedimos o aborto livre”.

– Manifesto 343 ­_Simone de Beauvoir.

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